Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO
"O Mediterrâneo é o oceano do passado. O Atlântico é o oceano do presente, e o Pacífico, o oceano do futuro."
A frase foi dita por John Hay, secretário de Estado dos EUA, na virada final do século 19. Naquele momento, Hay transformou as Filipinas em colônia e base americana na Ásia-Pacífico e anunciou a política de "portas abertas" para a China, reduzindo a forte "influência colonizadora" da Europa e do Japão sobre a região.
Hay estava correto sobre o Pacífico, mas sua frase visionária demorou cem anos para se materializar. O século 20 continuou sendo dominado pelo Atlântico, em razão da maior proximidade histórica, cultural, linguística e institucional entre os seus dois lados. Isso sem contar o impacto de duas guerras centradas na Europa, da Guerra Fria, da integração europeia, entre outros.
Porém, no ultimo quarto do século 20, o Atlântico começa a perder liderança. O primeiro sinal da supremacia do Pacífico veio nos anos 1970 pelo lado do comércio, com a reemergência das grandes potencias asiáticas –primeiro o Japão, depois a China, mais recentemente a Índia e o Sudeste Asiático. Comércio é um tema que está no DNA da região Ásia-Pacífico desde sempre.
Na área econômica, enquanto EUA e Europa cresceram só 1,6% ao ano na última década, a América Latina cresceu 4,6% anuais, e a Ásia, quase 6% ao ano. Na metade deste século, além de concentrar 60% da população, a Ásia vai responder por metade do PIB mundial.
Crescimento, comércio, capital e pessoas motivadas não são o que falta na Ásia. O maior problema parece ser a carência de instituições sólidas capazes de reduzir nacionalismos exacerbados, fricções e tensões, garantindo o "fair play". A Ásia ainda tem imensos desafios pela frente: melhor governança, combate à corrupção, redução de desigualdades, solução para disputas territoriais etc.
Recentemente, além da miríade de acordos bilaterais que povoam a região, começam a surgir blocos econômicos de grande envergadura. A Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec, em inglês) reúne 21 países que respondem por metade do comércio mundial e que avançam entendimentos para a criação da Área de Livre Comércio da Ásia-Pacífico (FTAAP). Quase todas as grandes nações de todos os lados da região Ásia-Pacífico fazem parte desse grupo.
A Parceria Trans-Pacífico (TPP), cujos maiores expoentes são os Estados Unidos e o Japão, reúne 12 dos 21 membros da Apec, sendo que a China até o momento ficou de fora.
Além de reduzir a zero as tarifas de importação de todos os bens em alguns anos, a TPP propõe uma nova arquitetura de comércio que reforça a integração dos países em cadeias globais de suprimento, com forte convergência de leis e regulamentos entre os países-membros.
Na agricultura, por exemplo, a combinação de abertura comercial e convergência regulatória na TPP pode provocar forte desvio do fluxo de comércio do Brasil para a Ásia, em favor dos EUA, do Canadá e da Austrália.
A TPP é acordo mais amplo, profundo e equânime que é negociado neste momento. E tudo indica que o Congresso dos EUA vai conceder a autorização para que o Executivo daquele país negocie o acordo num único bloco, a chamada TPA (Trade Promotion Authority).
Em paralelo, a Asean, uma associação formada por dez países do sudeste da Ásia, também caminha com força no seu processo de convergência e integração.
Apenas cinco países das Américas estão participando do imenso e intenso xadrez do Pacífico –Estados Unidos, Canadá, México, Peru e Chile. O Brasil participa de forma bastante marginal, exportando commodities e atraindo alguns investimentos. Claramente estamos perdendo oportunidades. Poderíamos fazer muito mais.
Diria que nesse tabuleiro somos apenas um peão lateral avançando lentamente, em direção única, ao passo que rainhas, torres, cavalos e bispos se reposicionam com força e agilidade. É hora de se mexer.
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO
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