Quando se fala em regulamentação para transporte refrigerado de
cargas, no Brasil, a carga de fármacos está entre as que mais geram
preocupação ao mercado. Sabe-se que existe uma demanda considerável para
produtos farmacêuticos sensíveis ao calor, exigindo acondicionamento
entre 15ºC e 30ºC. Outros produtos, como os hemoderivados, necessitam de
ambientes extremamente gelados. Há, também, os que precisam de ambiente
refrigerado, como as vacinas e as insulinas, que exigem condições de
temperatura entre 2ºC e 8ºC.
Os fármacos recebem bastante atenção, no quesito refrigeração, devido
aos riscos inerentes que produtos transportados com problemas
apresentam. Mesmo recebendo resoluções próprias da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), instituição preocupada em monitorar o
transporte de farmacêuticos, ainda há um
gap considerável de
regulações, que seria sanado a partir da concentração das normas em uma
regulamentação única. Consequentemente, deve haver auditorias e
monitoramentos em toda a cadeia do frio.
Embora a própria Anvisa requeira que o transportador tenha controle
de temperatura da carga e dê dicas de boas práticas, isso não determina
quais sistemas ou soluções devem ser utilizados, como um baú isolado com
equipamento de refrigeração. Hoje, portanto, muitos utilizam a caixa
isolada com gelo reutilizável e menos de 10% utilizam soluções
confiáveis para o transporte refrigerado.
Esse cenário explica a estimativa da Organização Mundial de Saúde
(OMS) de que, aproximadamente, 25% das vacinas atingem seus destinos
deterioradas, devido à quebra da cadeia do frio. De acordo com a
britânica Agência Reguladora de Produtos Medicinais e de Saúde (MHRA), a
maior falha está no controle da temperatura, o que causa de 30 a 40%
das falhas, compromete a qualidade do produto e causa risco de saúde.
O transporte de fármacos, no Brasil, exige cuidados e atenção extras,
incluindo permissões especiais para atravessar grandes centros e o
controle exato de temperatura dos baús refrigerados. Em termos de cadeia
do frio, esse tipo de carga exige atenção e cuidados extras, como
embalagens, limpeza e acompanhamento de profissionais da saúde. Na
prática, toda a cadeia de medicamentos, desde a fabricação até a
aquisição pelo consumidor, é acompanhada por normas e todas as empresas
envolvidas devem possuir autorização para operar. Ou seja, toda a cadeia
compartilha responsabilidade pelo produto final.
Outro desafio no quesito refrigeração é relacionado à restrição de
tráfego, em alguns centros urbanos. Como resultado, as empresas tiveram
de se adaptar, para que fosse possível transportar esse tipo de carga,
utilizando um equipamento similar a um “freezer móvel” em veículos
menores, como vans e veículos urbanos de carga (VUCs). Para isso, é
necessário solicitar uma autorização junto ao órgão municipal
responsável e, ainda, há chance de perda da carga, caso o planejamento
não seja eficiente, pois os equipamentos de refrigeração em VUCs
dependem do motor diesel e, com a baixa rotação no tráfego, o controle
da temperatura fica afetado.
Também, para que a temperatura adequada seja mantida, o operador
logístico deve ser capacitado e seguir processos de boas práticas, para
não comprometer a cadeia. Nesse caso, devem ser considerados fatores
como quantidade de produtos sendo entregues, tempo em que as portas
ficam abertas, qualidade do isolamento e outros. Para que todo o
processo seja feito da forma correta, algumas ações específicas se
tornam necessárias. Por exemplo, o baú e o equipamento de refrigeração
devem ser dimensionados adequadamente, para acondicionar a carga na
temperatura requerida. O transportador precisa utilizar cortinas
plásticas nas portas.
Há, ainda, muitos desafios e obstáculos, mas podem ser vencidos com a
conscientização da indústria e a união para educar toda a cadeia. É um
pesar que o mercado da cadeia do frio caminhe de forma lenta, seja para
transporte de congelados, hortifrúti, farmacêutica, floriculturista ou
qualquer outra carga. Mais uma vez, é passada a hora de todos os setores
envolvidos se engajarem para buscar a excelência em práticas do
transporte e conscientizar governos e governantes, a fim de criar um
reflexo positivo em toda a indústria.
* Marcelo Nicioli é gerente de Produto Truck and Trailer da Thermo King do Brasil.